(Imagem da Internet)
Desde que a atual coligação de direita chegou ao poder em
Portugal, escreve-se muito e fala-se ainda mais de neoliberalismo e de um
Governo de neoliberais. Penso que alguns saberão muito bem do que estão a falar,
outros assim, assim, e outros ainda, nem sequer imaginam. Para aqueles que não estão tão familiarizados com o termo, vou tentar, em poucas linhas, resumir, numa pálida ideia, de que se trata, quando e como apareceu
e o que projeta para o governo dos Povos.
Neoliberalismo significa novo liberalismo. Estamos portanto
e pressupostamente perante uma redefinição de liberalismo, um liberalismo com
nova roupagem e de conteúdo ideológico diferente. O neoliberalismo suporta-se
num conjunto de pensamentos e ideias, políticas e económicas (ideologia), que tem
por objetivo último eliminar a participação do estado na economia, passando
todo o aparelho produtivo e prestador de serviços de um país para o setor
privado, assegurando desta forma, segundo a sua crença ideológica, um mercado totalmente livre,
tendencialmente desregulado e gerador de um forte crescimento económico e
desenvolvimento social.
A ideologia neoliberal é muito recente, data da década de
70 do século passado (1970). Teve por seu primeiro ideólogo o Economista Inglês Friedrich August Von Hayek (prémio Nobel
da Economia em 1974). Teve por
principal mentor o economista Americano Milton Friedman, já falecido, e teve por principal
impulsionadora e “aplicadora” a também recentemente desaparecida do mundo dos
vivos, a Britânica Magaret Thatcher que foi Primeira Ministra de Inglaterra
durante 11 anos (1979 a 1990).
Mas voltando ao conteúdo programático do neoliberalismo,
cabe resumir os seus principais objetivos:
Os neoliberais defendem que o neoliberalismo torna a
economia mais competitiva, promove um maior desenvolvimento tecnológico e,
através da livre concorrência, faz os preços e a inflação caírem, ou seja, é
capaz de proporcionar o desenvolvimento econômico e social que qualquer país
ambiciona, e é interiorizado pelos seus defensores como a solução que será
capaz de resolver parte dos problemas econômicos mundiais, reduzindo a pobreza
e acelerando o desenvolvimento global.
No entanto a realidade tem sido bem diferente. Os países
onde as politicas neoliberais foram levadas por diante (com exceção da Grã
Bretanha, que é um caso de estudo) acabaram por ter que, de alguma forma, interromper
ou “subverter” a sua aplicação, devido às consequências que este
sistematicamente provocou: desemprego, diminuição dos salários, aumento das
diferenças sociais e dependência do capital internacional (onde é que nós já vimos isto).
Por ironia, ou talvez não, o neoliberalismo é um cisma do
pensamento liberal clássico (*)(ver resumo da sua definição em rodapé) que
teve o seu apogeu no século XIX até à primeira metade do século XX e que defende
quase o oposto do neoliberalismo. Enquanto o liberalismo defende um estado interventor
na economia (proprietário de unidades económicas), regulador de algumas
atividades económicas e assistencialista (estado social), o neoliberalismo
defende, como já dito, uma economia de mercado totalmente livre, desregulado e sem
apoios sociais (um estado mínimo).
Deixo a cada um a possibilidade de avaliar, por si próprio -
através dos seus conhecimentos pessoais
de quais foram os resultados em alguns países de Governos que adotaram politicas
neoliberais - se o neoliberalismo será
assim tão bom como o apregoam os seus defensores, ou tão mau como o diabolizam
os seus detratores:
- Reino Unido: Margaret Thatcher (1979 - 1990)
- Estados Unidos: Ronald Reagan (1981 - 1989), George Bush
(1989 - 1993) e George W. Bush (2001- 2009)
- Brasil: Fernando Collor de Melo (1990 - 1992) e Fernando
Henrique Cardoso (1995 - 2003)
- Chile: Eduardo Frei (1994 - 2000), Ricardo Lagos (2000 -
2006) e Michelle Bachelet (2006 - 2010)
- México: Vicente Fox (2000 - 2006)
- Portugal: Passo Coelho (2011 - ????)
(*) Resumo da definição de Liberalismo (clássico),
segundo Donald Stewart Jr. ( O que é o Liberalismo -1988). Liberalismo é
antes de tudo liberdade. Liberdade entendida como ausência de coerção de
indivíduos sobre indivíduos. É a adesão ao princípio de que a ninguém é
permitido recorrer à força ou à fraude para obrigar ou induzir alguém a fazer o
que não deseja. Liberalismo é liberdade econômica, é liberdade de iniciativa, entendidas
como o direito de entrada no mercado para produzir os bens e serviços que os
consumidores, os usuários, desejam. É a liberdade de contrato representada pelo
estabelecimento de preços, salários e juros sem restrições de qualquer natureza.
Um sistema baseado na liberdade pressupõe, necessariamente, que não haja
restrições à propriedade privada dos meios de produção e que haja plena
liberdade de entrada no mercado. Sendo assim, prevalecerão sempre aqueles que
forem capazes de produzir algo melhor e mais barato e, consequentemente,
capazes de melhor atender o consumidor. A liberdade de entrada não exclui a
possibilidade de propriedade estatal dos meios de produção; apenas obriga a que
haja competição. Ao Estado compete estabelecer as condições mínimas de educação
e saúde, e demais necessidades a serem proporcionadas a todos os cidadãos, bem
como a origem dos respetivos recursos.”
Bem diferente daquilo que nos estão a aplicar agora em
Portugal, não? A diferença estará apenas no prefixo “neo”? Acho que não, mas a diferença faz toda a diferença.
Mais uma vez, recebemos uma lição postada com muito estudo e conhecimento!
ResponderEliminarPor mim, só me resta agradecer os conhecimentos que me tem proporcionado a leitura dos seus comentários!
Humildemente devo confessar que não tinha uma ideia clara das difereças entre Liberalismo e Neoliberalismo...Obrigada!