(imagem da Internet)
Já por aqui escrevi que trabalhei na banca umas boas dezenas
de anos. Quando nos idos anos 70 nela me iniciei os bancos eram instituições
respeitáveis aos olhos da população e os banqueiros e gestores pessoas
confiáveis.
Em 11 de Março de 1975, quase um ano depois do 25 de Abril,
os bancos com capitais nacionais foram nacionalizados, os seus “velhos
gestores” e proprietários foram afastados. As forças politicas do novo regime fizeram
valer as suas influências e começaram a chegar à banca uma nova estirpe de
banqueiros e gestores de aviário (isto não tem nada de politico, refiro um
facto que vivenciei) alguns deles sabiam o que era um banco por serem clientes
de um.
Ainda assim a banca em geral soube-se adaptar, renovou
quadros, contratou novos gestores profissionais e continuou confiável e a
desempenhar bem o seu papel de motor da economia - mau grado as taxas de
inflação da ordem dos 30% ao ano - e a gerar resultados positivos com significado
(em jeito de piadola até comentávamos, sempre que eram publicados os resultados
de um banco, “olha o que seria se fosse bem gerido”).
No advento do ressurgimento de novos bancos de iniciativa
privada, em meados da década de 80, começaram a surgir no centro e norte da
Europa, vindos dos EUA e do Japão, uns “bichos estranhos” denominados de Novos
Produtos Bancários. A moda chegou cá num ápice, pelo que havia que perceber, rapidamente
e em força, de que se tratava e fazer formação a martelo. Recordo-me de um
velho amigo da área comercial, numa formação que fomos fazer ao Instituto
Bancário de Paris, me dizer um dia “estamos tramados pá, até aqui vendíamos e
comprávamos dinheiro, agora vamos passara a negociar fumo”.
Para quem não está familiarizado com o assunto, devo dizer
que nesses primórdios os tais “novos produtos” pouco tinham de especial,
limitavam-se a instrumentos de cobertura de risco (de câmbio, de taxa de juro,
etc.), por exemplo, um cliente que exportava (vendia) em Yens e queria garantir
que quando recebesse, o contravalor dos Yens era o mesmo que quando fez o
contrato com o seu cliente, fazia com o Banco um contrato equivalente noutra divisa, p. ex. em
Dolares, transferindo para o Banco o risco cambial e pagando a este um fee. Este “produto” , chamado instrumento
de cobertura de risco cambial, era, e é, é bastante útil para as empresas e está
hoje massificado com o nome de “swap cambial”.
O verdadeiro problema com os “novos produtos” surge nas
décadas seguintes. Como nestas coisas da finança há sempre uns artistas que não
dormem durante a noite a pensar como hão de enriquecer no dia seguinte, mentes
altamente criativas do lado de lá do Atlântico e tirando partido dos meios
informáticos que se começaram a generalizar, dedicaram-se a transformar a banca
num casino. Sustentados em produtos confiáveis (Contratos de Imobiliário,
Swaps, CDS, Contratos Futuros de ações e de bens de consumo como o petróleo, trigo...etc.) desataram
a criar nos seus bancos produtos especulativos – produtos onde uma das partes,
normalmente o Banco, tem condições para forçar a subida ou descida do valor de
um instrumento financeiro em seu favor - e começou a jogar-se à roleta na
Banca, lá e cá. Vende-se o que não se tem, compra-se o que não existe e
contratualiza-se por 5 milhões aquilo que realmente vale um milhão e quando
chega o incumprimento haverá sempre um banco que arde com o “fumo” que comprou,
ou com 4 milhões. Foi assim nos EUA e na Irlanda e um pouco por essa Europa
fora. Por cá foram mais os contratos com os “patos bravos” que levaram a massa
dos bancos e deram como garantia imóveis que hoje quase nada valem, estando os
diferenciais contabilizados em “imparidades” (valores tendencialmente irrecuperáveis).
No meio deste jogo de roleta, em 2008 estoira o 4º maior
banco Americano de Investimento, o Lehman
Brothers Holdings Inc. que arrasta
na queda centenas de outras instituições financeiras nos Estados Unidos e no
resto do mundo, desencadeando-se a maior crise financeira mundial de que há
memória; Sim a crise não é económica como nos querem fazer crer, a crise é
antes de tudo o mais uma crise financeira (todo um sistema financeiro incapaz
de solver os seus compromissos porque os seus ativos se desvalorizaram muito e
rapidamente). A juntar a isto, e como se já não fosse pouco, surgem as
instituições financeiras especuladoras que manipulam os mercados e apostam na
desvalorização de tudo o que ainda tem algum valor. Há atualmente notícia de
que apenas 10 (dez) bancos são proprietários de 60% da riqueza mundial
desvalorizada em 95% do seu valor de 2008.
Aqui chegados, sobretudo em Portugal, estamos onde estamos, manietados
de mãos e pés pela Europa, a aguardar um milagre e sem qualquer estratégia para
sair deste grande casino em que a banca se transformou, e não é certamente por
acaso que ainda anteontem os banqueiros portugueses rejeitaram a uma só voz a
criação de um “instrumento” (Fundo p. ex., como já fizeram os Italianos e a
Espanha e França preparam) onde seriam colocados os ativos tóxicos (as tais
imparidades) de todos os bancos e estes seguiriam a sua atividade sem “lixo
debaixo do tapete” mas com rédea curta. Eles lá sabem porque rejeitaram talvez
queiram continuara jogar à roleta, mas receio que vão ficar sós no terreiro
porque os Americanos já trataram da vida e o resto da Europa está a fazer o
mesmo. Quando estoirarem cá estamos nós, os contribuintes, para pagar com
língua de palmo e, mais uma vez, sem bufar.
Muito bom, gostei pela sinceridade, o dedo na ferida, os pontos nos is...
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