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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

VERGONHA, SHAME, VERGUENZA, HONTE, SCHANDE


(Imagem da Internet)

Tenho o hábito de me levantar cedo, para chegar também cedo ao meu local de trabalho, e tomo o pequeno almoço por volta das 7 horas, sentado e com a televisão ligada para ver os telejornais do inicio do dia.

Vai para dois meses que invariavelmente estas noticias comportam reportagens de vários pontos da Europa, dando-nos a dura e cruel nota da incompetência que grassa nesta nossa Europa envelhecida, ferrugenta, caquética e quase moribunda. Refiro-me à forma e ao conteúdo com que a Europa está a tratar as hordas de seres humanos que fogem da guerra, da fome e do caos dos seus países, para acabarem no caos desta Europa desunida, desarticulada e insensível, governada por imbecis burocratas e tecnocratas, em vez de ser governada por políticos dignos desse nobre nome.

Perante uma crise humanitária de dimensões ainda incomensuráveis, só vejo e oiço as autoridades (as europeias, as dos países e as locais) a clamarem por controlo, pelo fecho de fronteiras, a erguer muros e barreiras, em vez de clamarem por ajuda, por apoio, por acolhimento. Em vez de tratarem os refugiados como aquilo que eles são, refugiados, tratam-nos como invasores.
Grande parte dos países Europeus, Portugal na linha da frente, trataram de derrubar os governos dos países de origem destes desgraçados. Governos que, sendo tiranos e ditadores, tratavam apesar de tudo, de manter o seus países em paz e os seus povos com um razoável nível de vida, alguns deles muito próximo dos ditos ocidentais. Pois a Europa, os EUA e a Rússia, trataram de por tudo a ferro e fogo, provocando esta debandada à qual agora fecham literalmente as portas. Os EUA estão surdos e mudos, a Rússia nem sabe de que se trata, e a Europa é o que se vê.

Ontem vieram-me as lágrimas ao olhos ao ver umas largas centenas de homens, mulheres e crianças, algumas de colo, a deslocarem-se a pé, debaixo de chuva, em caminhos de lama, calçadas com chinelos e alguns descalços, sob temperaturas já muito baixas (a avaliar pela forma como o repórter estava vestido) e imagine-se o caricato contraste, eram enquadradas pela frente, pelos lados e retaguarda, por policias fortemente armados e dentro de fardas anti motim que mais pareciam cibernéticos robots articulados.
Desesperei, porque isto não pode ser a Europa que eu defendo e muito menos a Europa que os seus mentores idealizaram quando se abalançaram neste projeto. Isto é uma Europa acéfala, uma Europa com pés de barro, uma Europa atolada em burocracia, e em burocratas principescamente pagos, absolutamente incapaz de reagir.

Isto é simplesmente uma vergonha.


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