Boas Vindas

Se é, está, ou foi lixado, seja bem vindo a um blogue P´ralixados. Se não é, não está ou não foi lixado, seja bem vindo na mesma porque, pelo andar da carruagem, mais cedo do que tarde acabará também por se sentir lixado. Um abraço.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Estão a Roubar-nos o Futuro



- Nevão na cidade da Guarda - 
(Uma foto animada (c) de Pralixados alusiva à Quadra Natalícia)

Este será talvez o meu último “post” deste 2013, o terceiro ano consecutivo em que estamos a ser alvo de um terrorismo social sem precedentes. Devido a este facto não posso formular para 2014 os tradicionais votos de “bom ano” porque o não será certamente. Deixo antes um voto de que o próximo ano seja menos mau, é o que desejo para todos os que, como eu, estão a ser vítimas indefesas da tirania deste governo de insensíveis que se regem pelas regras do quero posso e mando alheios ao povo que sofre (ver reportagem aqui).

Dirão alguns, os mais otimistas, os situacionistas (ou os melhor ludibriados), que isto é negativismo, que é “ser do contra”, pois até já se decretou o fim da crise e anuncia-se aos quatro ventos o milagre económico do século, quiçá do milénio, para Portugal. É agora é que vai ser. Aquilo do Pontal de que 2012 seria o ano da retoma, que depois passou para 2013, foi só a reinar com a rapaziada para ver se esta se animava, mas o agora é o que importa, e agora de 2014 é que não passa. Depois logo se inventa uma qualquer desculpa para voltar a mudar o ano.

Pois desiludam-se os que assim pensam, porque o chefe deste conjunto de salteadores, que já nos tinha roubado a esperança, agoracom a sua “mensagem de Natal” ao país, já depois de saber que o OE para 2014 ia mesmo entrar em vigor no dia 1 de Janeiro (ter uma mão atrás do arbusto dá sempre jeito… até para aplicar mais 3,9 mil milhões de austeridade), sentenciou-nos com a continuação do saque, não por mais um ano, não por mais 3 anos, mas por mais 15 ou 20, porque vai ser esse o período em que o efeito destrutivo das politicas absurdamente recessivas de 5 anos (3 passados e 2 já anunciados) se vão fazer sentir.

Deixemos de lado a aldrabice (mais uma) com a criação de 120.000 novos postos de trabalho este ano, que afinal se saldaram por 21.800, e fixemo-nos “apenas” nesta frase da mensagem do chefe “….Fizemos nestes anos progressos muito importantes na redução do défice orçamental, e não fomos mais longe porque precisámos dos recursos para garantir os apoios sociais e a ajuda aos desempregados. A estratégia abrangente que pusemos em prática para salvar o País do colapso, para reformar a economia e trazer prosperidade, está a mostrar os seus primeiros frutos…”. Não pode haver nada de mais esclarecedor quanto ao futuro que nos espera e quanto aos conceitos de "apoios sociais" de "estratégia" de "reforma" e de "prosperidade", que vão por aquelas cabecinhas, e as intenções que as movem,  é só interpretar, sem esquecer que as eleições europeias estão à porta e o discurso tem que ser "soft", que faria se fosse "hard".

Não bastou roubaram-nos a esperança, agora até o futuro nos estão a roubar.
Votos de um 2014 menos mau, mas não se fiem muito nas aparências.


sábado, 21 de dezembro de 2013

O Maioral de Portugal


(Subir Lall – Chefe do FMI na Troika)

Subir Lall deu uma entrevista ao Expresso. Estão ambos no uso dos seus direitos, um de dar entrevistas, o outro de as publicar. O que já entendo que o Sr. Subir Lall não tem direito é de fazer duas coisas:
- Ofender os portugueses do alto da sua arrogância;
- Dizer o que o Governo de Portugal tem ou não tem de fazer face às decisões últimas do Tribunal Constitucional. Há um Governo legítimo no país para decidir isso.

De facto quer o conteúdo, quer a forma das afirmações deste senhor, deveriam fazer corar de vergonha qualquer elemento de qualquer dos Órgãos de Soberania, desde a AR até ao PR passando pelo Governo, e sobretudo este. E sobretudo este porque o Sr. Lall mais não fez, em determinados passos da entrevista, do que dizer ao Governo o que é que ele deve fazer em função da decisão do TC. Vejamos o exemplo mais flagrante:
Disse o senhor que o chumbo do corte de 10% nas pensões dos Pensionistas da CGA só tem uma forma de ser remediado (remediado !!!), é com uma medida com impacto financeiro semelhante porque não há flexibilidade para mexer no deficit. Pois bem, não ouvi um único membro de qualquer dos Órgãos de Soberania refutar esta “decisão da Troika”, e a este propósito vale a pena recordar que 388 milhões de Euros equivalem a 0,25% do PIB, e que uma flexibilização de 4% para 4,25% seria a solução para evitar novo massacre num Povo já massacrado qb. Mas não, insiste-se na austeridade obrigando ou ao aumento de impostos (não são estruturais) ou ao alargamento dos cortes a todos os pensionistas. Depois queixam-se que a economia não descola, pudera.

E andam estes patetas de pin na lapela com a bandeira de Portugal para depois se sujeitarem às ordens de um qualquer funcionário de terceira ou quarta linha do FMI (onde a confusão também deve ser grande, porque este senhor em pessoa, na mesma entrevista, desautorizou a Presidente da Instituição para onde trabalha, quanto à austeridade ter provocado recessão). Tenham vergonha e respeitem os símbolos da Nação, tirando os pins, e ficarão mais descaraterizados para executarem as ordens do estrangeiro, ou então imponham-se.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A Miragem do Oásis pós Troika


(Imagem da Internet)

É previsível (assim consta do plano) que no final do mês de maio do próximo ano, se conclua a última “avaliação” que a Troika vem fazer ao nosso país e com ela consigamos ver essas figuras sinistras pelas costas, se bem que vê-las pelas costas não significa livrarmo-nos do seu jugo.
Com “Segundo Resgate” ou sem ele, com “Programa Cautelar” ou sem ele, o trio da Troika talvez vá, mas ficam cá os outros, aqueles que tudo fizeram para que eles cá pusessem as garras, e entre os que vão e os que ficam, não sei quem nos tem feito mais mal.
Mas com o concretizar desse evento, o nosso pesadelo não vai terminar, bem pelo contrário, e maio de 2014 não está já assim tão afastado para que nos possamos deixar embalar pela miragem do Oásis do pós Troika com a qual o nosso Vice, Paulo Portas, nos anda a pretender enganar mais uma vez.

Apenas para não complicar o que já em si estará nessa altura bem complicado, façamos uma abstração e admitamos que a malta do Governo “são todos bons rapazes” e que até vão fazer um esforço para acertarem em alguma coisa, durante mais um ano que lhes restará de legislatura. Ano durante o qual estão obrigados a deitar mão de um qualquer desesperado golpe de magia, porque em 2015 haverá (haverá?) eleições legislativas e com todo o mal que têm feito ao Povo, sabem que  os espera uma rotunda derrota e há que minimizar os prejuízos tornando-a o mais “soft” possível.
E vai ser nesse momento de pós eleições que a miragem do oásis se vai esfumar como se esfumam todas as miragens, porque quem vier a seguir, (não acredito que possam ser os mesmos, se bem que com a oposição que temos já admito tudo) entre o que pretenderá fazer, e o que gostaria de fazer, vai ter que optar pelo que poderá fazer, tal vai ser o grau de destruição com que se irá defrontar. É que quem vier a seguir, tenha ele a cor que tiver, vai ter que lidar com um desemprego na casa dos 17%, (desemprego real, não o desemprego que só conta com os que ainda resistem em manter a inscrição nos Centros de Emprego e se sujeitam ao formalismo que isso exige). Uma dívida impagável que ultrapassará os 200 mil milhões de Euros (quando este Governo tomou posse era pouco mais de 100 mil milhões). Um PIB de rastos, com pelo menos 9 mil milhões de Euros perdidos em 3 anos, o investimento paralisado e a economia destruída.

No fundo, lá mesmo no fundo, a dura realidade é que teremos retrocedido mais de 30 anos, e vamos ter que repetir o esforço que fizemos nas últimas 3 décadas.
Não há portanto qualquer “Oásis” à vista depois da Troika. O cenário idílico do pós Troika que o Governo nos está a impingir é uma falácia, porque o pós Troika, para recuperar do estado a que o país foi conduzido nestes 3 anos, vai ser um duro caminho de dois ou três lustres de austeridade sobre austeridade, e não é preciso ser especialista de coisa nenhuma para concluir isto, basta analisar aquilo que Passos Coelho disse hoje em Bruxelas a propósito do chumbo do TC nos cortes nas pensões da CGA - aumento de impostos ou corte em todas as pensões - é a solução de qualquer merceeiro estagiário. Só por um qualquer milagre resistiremos na zona Euro por muito mais tempo. Imagine-se o que irá ser a saída do Euro.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Os Malucos Somos Nós

 
(Imagem da Internet)
 
Quando um Ministro (dito da Educação) afirma em direto perante as camaras de um canal de televisão, num “horário nobre”, que:
 
“as suas dúvidas são sobre a formação obtida nas Escolas Superiores de Educação pelos professores”.
 
e, passadas 24 horas, ainda está em funções, os malucos não tomaram conta do manicómio, não, como por aí se diz. Os malucos somos todos nós que ainda não tivemos arte e engenho, e sobretudo lucidez suficiente, para deitar essa canalha para correr. Simplesmente indecente.
 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Um Azar Nunca Vem Só....



 (Imagem da Internet)
Há quem afirme convictamente que o destino está nas nossas mãos, mas há também quem jure que não há forma de fugirmos ao destino que nos está predestinado.
Pois quer o destino seja, uma ou outra destas duas coisas, ou seja ainda uma terceira diferente, a dura realidade é que o nosso destino está a ser “lixado”, senão vejamos a surpresa que ele nos reservou para estes anos loucos que estamos a viver no nosso país, seguramente os piores anos das nossas vidas enquanto sociedade organizada e desenvolvida:

- O pior contexto Económico e Social mundial – Todos os países querem reaver num dia o que investiram em anos, para isso valeram-se da globalização e sobre ela  instalaram a politica do vale tudo e salve-se quem puder. As pessoas deixaram de ser tratadas como seres humanos e são, tendencialmente, números e máquinas de produzir. Desde que produzam, preferencialmente por custo zero, tudo o resto a que não têm acesso, comida, saúde, educação, habitação, são "danos colaterais", como na guerra;
- A pior Europa de sempre – Dirigentes frouxos, a dirigirem uma desunião de facto, e a promoverem descaradamente a supremacia de interesses obscuros e a submissão dos mais fracos e mais pobres, pelos mais fortes e mais ricos. Uma Europa que fará Jean Monnet dar voltas na tumba cada dia que passa;
- O pior Presidente da República – Amorfo, com intervenções a atirarem para o patético, deixou-se enredar na teia da elite económica e financeira, corroeu-o a ambição e acabou aprisionado pelo Governo. É um refém do neoliberalismo, e do qual nada de positivo há já a esperar.
- O pior Governo da Nação – Um Governo recheado de incapazes e inexperientes, comandados por um incompetente neoliberal assumido, incapaz de perceber o contexto histórico em que assumiu a governação e de lhe imprimir uma dinâmica de seriedade e de credibilidade, em defesa do País e do seu Povo. Hipotecou Portugal e o seu Povo aos interesses da Alemanha, e dos usurários da Troika, numa demostração clara de desprezo e desrespeito pelos Portugueses.
- A pior Oposição – Frouxa em tudo o que tem feito, desilusão em tudo o que não fez, e duvidosa em tudo o que promete fazer, na Assembleia e fora dela, mas sobretudo fora dela, porque lá dentro o jogo democrático está viciado. Desde o eclipsado PS (já circulam imagens do AJS com a expressão "procura-se") até à esquerda mais ortodoxa do PCP, não se viu ainda um assomo de propostas e ideias que sejam capaz de nos mobilizar e de fazer o Governo, a Troika e a Europa pensar duas vezes antes de nos continuarem a massacrar por delitos que não cometemos. Toda a Oposição se encontra perdida dentro da floresta a marcar árvores como território próprio, quando deviam estar a sobrevoá-la para verem a sua heterogeneidade, complexidade e extensão. Face a um Governo que quase se auto destruiu e que todos os dias ameaça implodir, a Oposição tinha todas as condições par se apresentar com uma alternativa e como uma alternativa, em vez de se ter deixado aprisionar pelo slogan do “não há alternativa, ou nós ou o caos”. Até faz doer a alma tanta tibiesa e ausência de ideias, e sobretudo de ideais.

Mas como um azar nunca vem só, receio bem que o 4.º elemento da Troika e ex-Ministro das Finanças, não tenha, mais uma vez, acertado nas suas previsões quando disse que "Portugal tem o melhor povo do Mundo". Receio bem que não tenha, porque o melhor povo do mundo não se resignaria, nem ficaria impávido e sereno perante um Governo que em menos de 3 anos conseguiu destruir riqueza no montante de quase 9 mil milhões de Euros (foi quanto o PIB contraiu) apesar de toda a austeridade que impôs aos trabalhadores, aos empresários e às empresas.
Este povo, que está a sofrer uma “punição” sem precedentes acusado de “crimes” que não cometeu, que mesmo a um passo de ser escravizado, ainda assim tudo cala e consente, este Povo não pode ser, seguramente, o melhor povo do mundo porque está abdicar de si próprio e a deixar hipotecar o futuro dos seus descendentes a troco de uma ideologia redutora de tudo o que seja sensibilidade, solidariedade e liberdade.
O que é que vamos deixar aos vindouros?

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Acaso Estará Tudo Doido?

(Imagem da Internet)
Partindo da premissa de que a cabeça é a única parte do corpo que serve aos humanos para pensar, tenho necessariamente que concluir que anda por aí muita gente sem a cabeça. 

Esta semana temos sido bombardeados com previsões otimistas para o próximo ano, para Portugal. Desde a OCDE, à Comissão Europeia, passando pelo BCE e pelo Banco de Portugal, ele vai ser só crescimento a torto e a direito.
Algumas previsões são até mais otimistas que as do próprio Governo, falando em crescimento do Consumo Interno já com um dígito, crescimento das Exportações também com um dígito, crescimento do PIB...; E o mais estranho é que todos os economistas com lugar na praça alinham nesta tese sem depois terem qualquer explicação suportada ou sustentada.

Não quero ser o recruta que na parada vai a marchar com o passo trocado, e que acredita que é toda a Companhia que vai com o "passo trocado", e ele é que vai com o passo certo, mas também não posso deixar de pensar pela minha cabeça e interrogar-me: - Então como é que vamos crescer em 2014, com um Orçamento recessivo, como o que está aprovado para esse mesmo ano? já o analisei e reanalisei todinho, e aconselho os prestidigitadores de serviço que também o façam, porque eu não vejo lá nada que me possa levar a assinar esta petição pública que está em curso, antes pelo contrário, se o que lá está for mesmo para aplicar, vamos ter mais do mesmo como resultado.

Acaso estará tudo doido, ou será que pura e simplesmente deixaram de pensar?

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O Trigo e o Joio

Quando, há cerca de ano e meio, o Sócrates disse numa conferência em Paris que “… as dívidas dos países não são para pagar, mas sim para gerir…”, por cá os partidos do Governo e os seus aliados à esquerda, rasgaram as vestes na praça pública de tão indignados que ficaram. Heresia, fogueira com ele, gritavam uns, prenda-se o homem gritavam outros atiçados pelo Secretário Geral da JSD.

Acontece que, geralmente, as pessoas possuem memória curta e agora passados poucos meses dessa “indignação de falsas virtudes” o Governo do PSD/CDS se confrontou com “um probleminha”: - Nos próximos dois anos iam vencer-se (atingiam a “maturity”), nada mais nada menos do que quase  27 mil milhões de Euros em Dívida Publica Portuguesa, representada por Obrigações do Tesouro (OT´s) e por Bilhetes do Tesouro (BT´s). Mais concretamente 13,475 mil milhões em 2014 e 13,406 mil milhões em 2015.
Pois bem, o que fizeram então os nosso ilustríssimos e seriíssimos governantes que chamaram “charlatão” ao Sócrates? Trataram de seguir a teoria do homem, “gerir a dívida”. Montaram uma Operação de Troca  de Dívida, ou seja trocar os títulos representativos de parte dessa dívida por outros com vencimento respetivamente em 2017 e 2018. O montante “trocado” não foi de desprezar uma vez que montou a 6,6 mil milhões (2,4 mil milhões que se venciam em 2014 e quase 4,2 mil milhões que se venciam em 2015). Nada mais nada menos do que empurraram a dívida com a barriga mais três anos (para 2017 e 2018) para a somarem à que se irá vencer nesses anos e quem vier atrás que feche a porta, ou seja: adiaram a evidência do fracasso e mascararam o desastre que está a ser o “Programa de Ajustamento” uma vez que não iam ter qualquer possibilidade de liquidar estes valores nos próximos dois anos, como os que estiverem no Governo em 2017 e 2108 não terão. O desastre acabará por ocorrer.

Mas esta operação não se fica pela encenação de um passe de mágica que o Governo classifica como "êxito total" (!!!) e "início do regresso aos mercados" (???), é que ela não injetou um cêntimo no capital circulante do país (não houve investidores estrangeiros envolvidos) e aqui é que está a grande falácia da propagandeada operação; A operação foi acertada com os Bancos nacionais e com o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, tutelado pelo Ministro da Lambreta (o tal Instituto que gere os nossos descontos para a SS e assegura o pagamento as nossas reformas e que o Governo diz que está na falência !!!) e foram estas entidades que ficaram com a dívida, ainda por cima quase ao dobro da taxa de juro que os títulos trocados tinham.

Nada como o tempo para separar o trigo do joio e nos revelar a verdade que a bruma da proximidade ofusca.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Anúncio (I) - Procuram-se Governantes com Vergonha

 
(Imagem da Internet)
 
Com a chegada dos sobas da Troika para mais uma avaliação da sanzala, temos assistido nos últimos dois dias a uma encenação desavergonhada do Governo, querendo fazer-nos crer que está num braço de ferro com o FMI por causa dos salários no setor privado.
 
Vende-nos o Governo através dos seus vários papagaios do CDS-PP, e do PSD/PPD empoleirados em alguns estratégicos órgãos de comunicação social, que o FMI pretende baixar alguns salários no setor privado, mas que isso é uma profunda injustiça com a qual o Governo não concorda nem pactua. Até já ouvimos do Primeiro Ministro, da Ministra das Finanças e do Ministro da Economia a afirmação que “… não são defensores de salários baixos… o setor privado já fez o ajustamento….blá blá blá”.
 
Ora é preciso não ter mesmo vergonha nenhuma para vir a público com esta manobra de diversão para enganar o cidadão votante, sobretudo se o cidadão votante, como eu, não se lembrar que em 60 anos conhecemos 18 Governos em Portugal. De todos eles, este foi o que mais castigou os cidadãos com redução dos salários nominais e reais, redução de pensões e reformas e aumento de impostos, e isto só nos dois anos e meio passados, porque o próximo ano vai ser mais do mesmo (consulte-se o Orçamento do Estado para 2014).
 
Estamos perante uma ação combinada e concertada com a Troika que é preciso denunciar, para bem da nossa saúde mental.
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O Dia em que Acabou a Crise

(Concha Caballero ***)

Hoje abdiquei de expressar a minha opinião e não resisti a transcrever neste espaço um artigo da espanhola Concha Caballero.

Trata-se de uma artigo escrito e publicado já em meados do corrente ano, mas que mantém toda a sua atualidade (ou terá mesmo mais), toda a sua perspicácia e toda a sua objetividade. Não deixem de ler.

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Título: - O Dia em que acabou a crise.

Subtítulo: - Quando terminar a recessão teremos perdido 30 anos de direitos e salários.

Um dia no ano 2014 vamos acordar e vão anunciar-nos que a crise terminou. Correrão rios de tinta escrita com as nossas dores, celebrarão o fim do pesadelo, vão fazer-nos crer que o perigo passou embora nos advirtam que continua a haver sintomas de debilidade e que é necessário ser muito prudente para evitar recaídas. Conseguirão que respiremos aliviados, que celebremos o acontecimento, que dispamos a atitude critica contra os poderes e prometerão que, pouco a pouco, a tranquilidade voltará à nossas vidas.

Um dia no ano 2014, a crise terminará oficialmente e ficaremos com cara de tolos agradecidos, darão por boas as politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrocel da economia. Obviamente a crise ecológica, a crise da distribuição desigual, a crise da impossibilidade de crescimento infinito permanecerá intacta mas essa ameaça nunca foi publicada nem difundida e os que de verdade dominam o mundo terão posto um ponto final a esta crise fraudulenta (metade realidade, metade ficção), cuja origem é difícil de decifrar mas cujos objetivos foram claros e contundentes:

Fazer-nos retroceder 30 anos em direitos e em salários

Um dia no ano 2014, quando os salários tiverem descido a níveis terceiro-mundistas; quando o trabalho for tão barato que deixe de ser o fator determinante do produto; quando tiverem feito ajoelhar todas as profissões para que os seus saberes caibam numa folha de pagamento miserável; quando tiverem amestrado a juventude na arte de trabalhar quase de graça; quando dispuserem de uma reserva de uns milhões de pessoas desempregadas dispostas a ser polivalentes, descartáveis e maleáveis para fugir ao inferno do desespero, então a crise terá terminado.

Um dia do ano 2014, quando os alunos chegarem às aulas e se tenha conseguido expulsar do sistema educativo 30% dos estudantes sem deixar rastro visível da façanha; quando a saúde se compre e não se ofereça; quando o estado da nossa saúde se pareça com o da nossa conta bancária; quando nos cobrarem por cada serviço, por cada direito, por cada benefício; quando as pensões forem tardias e raquíticas; quando nos convençam que necessitamos de seguros privados para garantir as nossas vidas, então terá acabado a crise.

Um dia do ano 2014, quando tiverem conseguido nivelar por baixo todos e toda a estrutura social (exceto a cúpula posta cuidadosamente a salvo em cada sector), pisemos os charcos da escassez ou sintamos o respirar do medo nas nossas costas; quando nos tivermos cansado de nos confrontarmos uns aos outros e se tenham destruído todas as pontes de solidariedade. Então anunciarão que a crise terminou.

Nunca em tão pouco tempo se conseguiu tanto. Somente cinco anos bastaram para reduzir a cinzas direitos que demoraram séculos a ser conquistados e a estenderem-se. Uma devastação tão brutal da paisagem social só se tinha conseguido na Europa através da guerra.
Ainda que, pensando bem, também neste caso foi o inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as condições do armistício.

Por isso, não só me preocupa quando sairemos da crise, mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só fazer-nos mais pobres e desiguais, mas também mais cobardes e resignados já que sem estes últimos ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam entraria novamente em disputa.

Neste momento puseram o relógio da história a andar para trás e ganharam 30 anos para os seus interesses. Agora faltam os últimos retoques ao novo marco social: Um pouco mais de privatizações por aqui, um pouco menos de gasto público por ali e “voila”: A sua obra estará concluída.

Quando o calendário marque um qualquer dia do ano 2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta, decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa rendição.

(***) - Concha Caballero é licenciada em Filologia Espanhola e professora de literatura num instituto público. Foi a porta-voz do grupo da Esquerda Unida no Parlamento da Andaluzia, e abandonou a politica dececionada com a coligação eleitoral do seu partido. Há anos que passou do exercício da politica ativa para analista e articulista, social e politica, de vários meios de comunicação, com destaque para o EL PAÍS. É uma amante da literatura e firmemente humana com as questões sociais.

Clique no link abaixo e leia o artigo Original em Castelhano