Não nos iludamos. Esta dívida é impagável
(clique no gráfico para o ampliar)
Os meus pais primeiro e depois a experiência da vida,
ensinaram-me que, seja em que circunstância for, devemos sempre honrar os
compromissos que assumimos. Mais do que uma questão de honra, é uma questão de
seriedade e de honestidade.
Esclarecido este ponto, sou daqueles que defendem que se
pedimos emprestado temos que pagar. Este principio aplica-se a um particular, a
uma empresa ou a um país, que é o caso a que me quero referir, o nosso país,
Portugal.
Mas honrar os compromissos enquanto e quando estes são
“honráveis” é completamente diferente do que honrar compromissos quando as
circunstâncias os remeteram para a impossibilidade de poderem já ser honrados,
se nada for feito para contrariar essas mesmas circunstâncias. Quando se chega a
esta situação, o que frequentemente acontece é que perante a impossibilidade
de conjugar honra com solvabilidade, as pessoas desaparecem ou suicidam-se, as
empresas declaram falência ou simplesmente fecham, e os países, ou renegoceiam
(reestruturam) a sua dívida, ou declaram bancarrota e deixam de cumprir
com os seus compromissos perante, os seus empregados, fornecedores, e credores.
Ora o que sucede neste momento a Portugal é que não tem
qualquer possibilidade de pagar a sua dívida, senão vejamos o gráfico acima que foi construído com dados que retirei dos
Orçamentos do Estado desde 2003 até 2013 (2013 são extrapolados com muito,
mesmo muito, otimismo), que constam no "site" da Direção Geral do Orçamento http://www.dgo.pt
Se atentarmos na linha encarnada, que representa o encargo
com a dívida - atenção que não representa a dívida, mas sim aquilo que
anualmente temos que pagar por ela em amortização de capital e juros –
facilmente concluímos que é a parte de leão da totalidade da despesa total do
Estado – linha verde -.
Como o PIB – linha azul – que representa a riqueza produzida
no país , em vez de subir está a descer, a conclusão não é difícil de retirar:
- Esta dívida é impagável nas condições atuais, porque não produzimos para a
pagar, só a pagamos contraindo mais dívida, que é o que tem sido feito até
agora, e entramos numa espiral de endividamento, enquanto houver quem nos
empreste dinheiro, cada vez mais caro e cada vez mais escasso.
Ainda há pouco mais de uma dúzia de meses, estava longe de
imaginar que este seria o estado do país, mas face ao agravar das condições
económicas, no país e na Europa, neste momento não tenho qualquer dúvida que ou
se iniciam rapidamente negociações com vista à reestruturação ou a bancarrota
está ali ao voltar da esquina. E não pensava assim há uma dúzia de meses,
porque era dos que acreditavam que ainda havia Homens de bom senso em Portugal
e na Europa capazes de evitar o pior, mas a atuação desastrada dos nossos
Governos e sobretudo a gestão catastrófica da Europa pelos seus dirigentes que
estão, uma vez mais, vergados à ditadura económica da Alemanha, conduziram-nos
a um beco sem grandes saídas.
A agravar a situação, os nossos Governantes parece que têm
horror à palavra reestruturação, mas todos os países, mesmo a Alemanha já o
fez, e mais do que uma vez, reestruturam as suas dívidas sempre que isso se
revelou necessário. Reestruturar não significa deixar de pagar. Há muitas
formas de reestruturar, desde renegociar juros, renegociar prazos, renegociar
períodos de carência (períodos em que se suspende o pagamento) de capital ou de
juros, troca de divida de curto prazo por dívida de longo prazo, etc. etc.. O
limite é mesmo o perdão parcial, tal como já ocorreu com a Grécia.
Algo o nosso Governo terá que fazer se não quiser ficar na
história como o cangalheiro de Portugal do Século XXI –já houve outros em
séculos anteriores-.
Não nos iludamos porque esta dívida ao ponto a que chegou
e da forma como chegou é impagável. Há alguns meses atrás chamaram imbecil, a
um conhecido politico, com algumas responsabilidades por termos chegado até este estado de coisas, quando
ele disse que “a dívida não se paga, gere-se”. Percebo agora o
que ele queria dizer, e acho que tinha toda a razão, deixámos de gerir
(negociar) a nossa dívida de forma a podermos continuar a pagá-la, e, se o rumo se mantiver, o destino é o desastre do qual o país não recuperará durante um quarto de século.
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