(Imagem da Internet)
Vai para seis décadas e meia que nasci, cresci e fiz a
escola primária numa aldeia beirã da Serra do Açor, onde a beleza da paisagem
contrastava com a rudeza do clima e com as dificuldades para ali se viver,
melhor, se sobreviver, porque era de sobrevivência pura que se tratava.
Naqueles tempos e por aquelas paragens, isoladas do mundo, o
tempo passava devagar e o difícil mesmo, para uma criança em idade pré-escolar,
era encontrar ocupação para as horas que sobravam da guarda do rebanho de
cabras e ovelhas.
O meu padrinho “Zé Capa” tinha uma forja, a atirar para o
artesanal, na qual eu muitas vezes encontrava ocupação para os tempos livres e
me divertia alheio aos perigos que me rodeavam (fogo, ferro incandescente,
chispas de metal que saltavam das ferramentas em reparação, o barroco sem
proteção ali à beira da porta, etc.).
Uma das minhas “atividades” preferidas na forja era agarrar
numa qualquer ferramenta que estava para reparar (uma enxada, um sacho,
picareta, roçadoira, machado, etc.) e colocá-la na “bigorna baixa”, pegar um
martelo e martelar esse utensílio com quanta força tinha. Pelo menos fazia
concorrência ao meu padrinho na produção de decibéis.
Lá vinha então ele com o seu alerta tradicional “ó pá, estás
a malhar em ferro frio? Isso não serve para nada e ainda te aleijas”.
Mais tarde viria a saber que a expressão “malhar em ferro
frio” significa “desperdício de esforço”.
É exatamente isso, desperdício de esforço, que a blogosfera
não situacionista de Portugal, os comentadores e analistas politicos e os próprios politicos, andam a fazer neste país. Nunca houve tantos
Blogues e bloguistas com tanta qualidade. Artigos de excelência, alguns dignos
de uma primeira página de qualquer jornal de referência num qualquer país, são
produzidos e publicados diariamente na Internet. Nunca houve tantos programas de televesião populados por comentadores e politicos de esquerda, de centro e de direita, a comentar o momento politico de cada dia em cima do aconteceimento. Nunca houve tanta informação para "digerir" como na atualidade. Ninguém se pode queixar que "não sabia", mesmo aqueles que ainda estão "perdidos" nas Serras do Açor deste país.
Mas pasme-se, o país (leia-se o Povo) parece estar anestesiado com a
catadupa de maldades que o Governo do PSD/CDS lhe tem feito, e já não reage a
nada, muito menos aos estímulos proporcionados pelo manancial de argumentos dos
blogueiros e dos media em geral. Até parece que o Povo ficou cego surdo e
mudo, paralisado pelo medo, ou então talvez prefira mesmo é continuar a ser massacrado como
está a ser, por muitos e longos anos, senão mesmo gerações, numa
austeridade perpétua, em vez de reagir. O Povo tem sempre razão e neste caso lá terá as suas.
Analisemos o exemplo recente das eleições Autárquicas:
Os partidos do Governo (PSD+CDS) tiveram no conjunto,
concorrendo isolados ou coligados, 27,32% dos votos expressos nas urnas. Esta
percentagem representa 1.384.737 de votantes nestes dois partidos. Mas há um
pormenor que escapa (propositadamente?) à maioria dos analistas, e que é o
seguinte: Em Portugal estão inscritos nos Cadernos Eleitorais 9.497.404 cidadãos com direito a voto. Os
1.384.737 votos obtidos pelos partidos do Governo são 14,58% desses cidadãos com
direito a voto no país. (ver gráfico abaixo).
Não sabia que o "Ti Zé Capa" era o teu padrinho, bom homem.Tinhas um pontão ao pé da porta e perigosissimo no Inverno com a Ribeira a transbordar e passar em cima de umas lages escorregadias suspensas sobre dois barrotes,ás vezes com os olhos meios fechados com sono para calcorreares aquele mais que um km de quelhas "escaleiras" e "escorregueiras"ribeiros e ribeiras,para antes das 8 horas estares á porta da Velhinha escola de Sobral Magro, "odisseia" que tinhas que repetir ás 18 horas com trovoadas medonhas enxorradas etc. Se estes governantes tivéssem passado metade daquilo que nós passámos ,governariam melhor de certeza ...Um abraço Amilcar. á, vais dizer que sou maluco,mas não fui votar
ResponderEliminarMuitas vezes dou por mim, a fazer esta mesma leitura...mas metendo a mão na consciência, até estas eleições, eu fiz parte desse povo que, embora sabendo que o meu voto pouco ou nada ia contar, tinha a esperança que houvesse uma mudança, quase todos nós votamos com esse desejo...!Pela 1ª vez,o meu voto foi nulo, (unicamente para que fosse contado, pois a vontade de votar era nenhuma...)pensando nesse ditado muito antigo, malhar em ferro frio...não será só um desperdicio de tempo, mas também revela uma completa indiferença que se apoderou do Povo, até que...uma situação mais inesperada bata à sua porta...porque aqueles a quem ela já bateu , de certeza que se sentem indignados, feridos, revoltados, humilhados e ofendidos na sua dignidade...não, não virão dias melhores....
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