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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Ainda o País e as Pessoas

 
(Luis Montenegro, Deputado da Nação pelo PSD)
 
“Eu sei que a vida quotidiana das pessoas não está melhor, mas não tenho dúvidas que a vida do País está muito melhor”.
 
Esta frase (sic), proferida, há dias, por Luis Montenegro, líder do Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República Portuguesa, já fez correr muita tinta e já muito foi dito e escrito sobre ela. Contudo há uma questão muito básica, que, ou me escapou nas dezenas de comentários que li e ouvi, ou então ainda não foi mesmo abordada, que é a seguinte:
 
- Em que Lei, ou conceito universalmente aceite, é que o Sr. Deputado Luis Montenegro,  se fundamenta para ousar dissociar as pessoas do País, e vice versa?
 
Será num qualquer dogma do neoliberalismo?, ou será mesmo que ele concebe um Portugal que não seja constituído por pessoas ou um Portugal que não seja das pessoas e para as pessoas (cidadãos) que o constituem? Se é isso que ele pensa e, ao que parece, defende, então deveria ser-lhe vedado o acesso a qualquer cargo público, ser expulso da AR, e, quiçá, retirada a cidadania Portuguesa. Se não é isso que ele pensa, então não pensa o que diz, antes de o dizer, e deveria. 
 

1 comentário:

  1. A propósito da relação entre o país e os cidadãos, sugiro este delicioso texto de Gonçalo M. Tavares:

    Pagar mais impostos é muito bom para quem paga mais impostos (2)


    "- A questão é simples: os impostos servem para melhorar a vida do país. Certo?
    - Certo.
    - Portanto...
    - Portanto: quanto mais impostos um indivíduo pagar, mais o país melhora a sua qualidade de vida.
    - Ou seja...
    - Ou seja: quanto menos dinheiro uma pessoa tiver por mês para viver - pelo facto de pagar mais impostos - mais dinheiro tem o país, no geral.
    No limite: quando alguém compra um pão com manteiga e o come, está, objectivamente, a roubar esse pão com manteiga ao país.
    - Isto é: quanto pior cada pessoa viver melhor viverá o país.
    - Exacto.
    - Viva pois o país! - exclamou o Primeiro Auxiliar.
    O segundo concordou.
    - A questão é: estamos ao serviço dos interesses do cidadão singular ou do país como um todo?
    - Do país como um todo, Chefe! - gritaram, em uníssono, os Auxiliares.
    E repetiram ainda, com os braços levantados:
    - Como um todo! Como um todo!
    - E o país pertence a todos! - insistiu o Primeiro Auxiliar.
    - Exacto. A todos!
    - Portanto, se o nosso objectivo patriótico é melhorar a qualidade de vida do país, o que temos de fazer é...
    - Piorar a qualidade de vida de cada cidadão!
    - Aí está!"

    TAVARES, Gonçalo M., O Senhor Kraus, Lisboa, Caminho, 2005

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