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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Passará a Austeridade a ser um Modo de Vida?



(Imagem da Internet)
Quando tomou posse, em 2011, o actual Governo  fez questão e garbo em aplicar aos seus concidadãos que tinham acabado de o eleger, a austeridade como punição e impor-lhes a pobreza como redenção. Com essa estratégia, meteu-se num beco apertado, ao fim do qual  está com muitas dificuldades em chegar e, se chegar, chegará em muito mau estado. As comemorações da efeméride que hoje se celebra, são disso prenúncio: - A elite dominante, e os seus lacaios, na AR e o Povo nas ruas, com especial destaque para o Largo do Carmo em Lisboa. 

Face à situação deveras complicada, sob o ponto de vista financeiro, e à evidente fragilidade politica do partido que detinha o poder em 2011 (PS), o PSD e o CDS tiveram então todas as condições para, assim que foram Governo, terem optado por um caminho de rigor, de contenção, e até de alguma austeridade (Sócrates já a tinha utilizado com lucidez), mas sem arrogância, sem subserviência à Alemanha e à Troika, sem afronta ofensiva aos cidadãos, e sobretudo não usando o exercício do poder como um ato punitivo de todo um Povo. Logo que foram Governo, mandaram às urtigas tudo o que haviam prometido, e entenderam não percorrer o caminho mais justo (porventura o mais difícil para quem governa) e preferiram deliberadamente percorrer o caminho que todos hoje conhecemos. Agora, terminada a "sacrossanta" missão da Troika, chegaram a uma encruzilhada que qualquer que seja a direção que tomem só pode conduzir a um precipício, é só uma questão de esperarmos para ver.

A pior situação com que o Governo vai ter que lidar nos próximos tempos é a dos “mais cortes”. E mais cortes porque nunca ensaiou sequer um sinal de pretender bater o pé à Troika (representada pelos peões de brega que por cá apareceram a cada três meses), contrariando com números, e com a evidência da situação real do país, as descabidas e descontextualizadas medidas que nos iam impondo. Não só comia e calava como ainda aplaudia, e isto o Povo, não compreendeu, não vai esquecer nem irá perdoar.
Chegámos assim a uma situação em que se não houver alteração da estratégia de governação iremos irremediavelmente assistir à eternização da austeridade e à repetição de cortes sobre cortes até já nada mais haver para cortar.

Façamos uma analogia da situação a que chegámos com uma vulgar situação familiar:

- Elejamos para o exemplo uma família tradicional, da classe média, que vive exclusivamente da venda da sua força de trabalho, composta por 7 pessoas avô, avó, pai, mãe e 3 filhos menores. Esta família vive numa zona industrializada, outrora próspera, mas que acaba de ser atingida pelas crises que assolaram toda a Europa, primeiro a financeira e depois a das dívidas;
- O avô, o pai e a mãe trabalham (possuem uma profissão e um emprego remunerado) e produzem a riqueza (rendimentos) para sustentar toda a família;
- A avó também trabalha, mas não gera rendimentos diretos porque não tem um salário, mas evita custos porque assegura a gestão doméstica e dá suporte e apoio aos netos e aos 3 membros que trabalham;
- Os 3 netos estão a fazer a sua formação escolar.

Imaginemos que, no contexto descrito, um dos 3 que produzem riqueza (avô, pai ou mãe) fica sem emprego. O que acontece? Simplesmente a família tem que proceder a “cortes” nas despesas, ou endividar-se.

Imaginemos ainda que, dos 2 que ainda produziam riqueza um fica também sem emprego. O que acontece? Ou procuram novas fontes de rendimento (novos empregos, que não há), ou os “cortes” nas despesas passarão a ter que ser dramáticos e definitivos, e não lhes restará outra alternativa senão procurarem novas formas de sobreviver. 

Deste simples exemplo o que podemos concluir é também simples: - Os cortes são uma consequência da família não produzir riqueza, pois de contrário não seria preciso fazer cortes, bastaria gerir bem, quer os proveitos, quer as despesas.

O que se passa no país, e por essa europa austeritária fora, é exatamente o mesmo do exemplo; Deixou de se produzir riqueza suficiente para solver os compromissos e o Governo em vez de dinamizar a economia, o que teria por consequência não abrandar a produção de riqueza e manter os postos de trabalho e os níveis de consumo, pura e simplesmente endossou essa missão, em exclusivo, para a iniciativa privada (ideologia neoliberal no seu melhor). Os privados por sua vez entraram em colapso porque o acesso ao financiamento encareceu, a produção caiu e a que se manteve não tinha como escoar-se (o consumo privado foi restringido, não só por falta de poder de compra, mas também por medo – outra façanha deste Governo, amedrontou intencionalmente todo um Povo -). Com as vendas em queda, as empresas pararam a produção, despediram trabalhadores, deixaram de pagar impostos e os elos da cadeia foram-se quebrando um a um. (ver a 2ª imagem  deste post de há um ano).

Foi neste contexto político-económico que chegámos à situação atual de cortes sobre cortes com tendência para a austeridade eterna, até que alguém com dois palmos de testa acabe por concluir que ou o Estado toma as rédeas da dinamização da Economia para se começar a produzir riqueza no setor privado, ou então o ciclo de cortes sobre cortes será infernal e acabará por destruir a democracia e o país. E isto será tão certo como estarmos no ano de 2014 DC, a não ser que um dos grandes da Europa entre em colapso (já faltou mais) e aí a mudança de paradigma na Europa será rápida e brutal, acabam logo os limites dos deficits, os tratados orçamentais, e as restrições ao investimento, ao consumo e ao envolvimento do Estado na economia. Até lá o Governo não tem escolhas, vai ter que ir até ao fim do beco, para nosso mal, que continuaremos ter a austeridade como modo de vida.

E porque hoje é 25 de Abril, não posso deixar de recordar que há 40 anos - tinha eu então 24 - o Povo acreditou. Não pode ser agora, perante estes salteadores que nos desgovernam, que vai deixar de acreditar. Mas..... também tem que contribuir alguma coisa para a crença coletiva.

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