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sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Flagelo do Desemprego. Que Solução?


(Desempregados: - A Rua como Sala de Espera)
 
Já muito se disse e escreveu e muito mais se irá ainda dizer e escrever sobre o flagelo do desemprego em Portugal e no Mundo. Mas, perante uma tão grande tragédia humana, nunca é demais, e cada vez mais, os cidadãos levantarem, de alguma forma, a sua voz (que vale um voto) contra este estado de degradação social, só comparável à Grande Depressão de 1929/33, a que uma certa tecnocracia de obstinados fanáticos que governam Portugal e a Europa, faz ponto de honra de nos querer conduzir.
 
 
Os Números
 
Os números do desemprego são demolidores, em Portugal e no Mundo. No final de Abril registavam-se os seguintes valores, e todos a aumentarem:
-   1 Milhão em Portugal (440 mil não recebem subsídio de desemprego);
-   6 milhões em Espanha;
- 19 milhões na Zona Euro;
- 26 milhões (mais de 5 vezes a população ativa de Portugal) em toda a União Europeia;
-202 milhões em todo o Mundo.
São números que arrepiam, mesmo sem os 6 zeros à direita. Mas o que arrepia ainda mais é o desemprego entre os jovens, relativamente aos quais a situação é bem mais dramática, sobretudo se pensarmos em termos de perspetiva de vida e de futuro que eles terão para si próprios.
 
Em Portugal 166 mil jovens entre os 15 e os 24 anos estão desempregados. A taxa de desemprego entre eles é de 42%, ou seja, dos 395 mil jovens ativos apenas 229 mil conseguem ter um trabalho remunerado.
 
Mas se avaliarmos o desemprego jovem no Mundo os números são ainda mais impressionantes, e aqui vou colocar os zeros, são 78.000.000 (setenta e oito milhões), número que representa 12,3% da população jovem ativa (população entre os 15 e os 24 anos apta a trabalhar), e com tendência a crescer até 2015 para os 13%.
 
Este nível de desemprego entre os jovens  é uma bomba ao retardador que, mais dia menos dia, vai explodir numa hecatombe de conflitos sociais, sobretudo intergeracionais.
 
 
Porque chegámos a esta situação?
 
Não chegámos a esta situação apenas devido à destruição do tecido económico. Também, mas não só. Chegámos até este estado devido a muitos outros fatores, alguns deles nem sempre devidamente explicados, ou mesmo percecionados, mas que, lenta e progressivamente se foram desenvolvendo em “background” e que agora a crise económica e financeira no Mundo desenvolvido apenas veio evidenciar. Será necessário recuarmos um pouco no tempo para encontrarmos uma explicação com alguma sustentabilidade lógica para este flagelo mundial.
 
A Revolução Industrial (finais do século XVIII) trouxe ao mundo do trabalho a “maquinização” dos sistemas de produção, que, à data, eram fundamentalmente manufaturas. A introdução da máquina (a vapor) no processo produtivo, acaba por substituir o homem e gera milhares de desempregados e convulsões sociais sérias, sobretudo em Inglaterra, na 1ª Fase e em França, na 2ª Fase. No entanto com o embaratecimento dos meios de produção aumenta o consumo e, consequentemente a produção a par da redução drástica dos horários de trabalho - que chegavam a ser de 15 horas por dia e se reduziram para 12, 10 e até 9 horas - acabaram por se criar novos postos de trabalho cujo preenchimento se fez à custa não só dos desempregados, que já não chegavam para a procura, mas a partir das zonas rurais, começando aqui uma transferência de mão de obra da agricultura para a industria e dos campos para a cidades (situação que, com outros contornos, voltamos a ter na atualidade). Até finais do século XX, apesar de algumas convulsões económicas graves no século XIX, a estabilidade acabou por ser sempre conseguida na linha dos princípios da RI (maior produção, produção mais barata, maior consumo, menos horas de trabalho, mais trabalho, mais rendimento) mantendo-se um relativo equilibrio entre o capital e o trabalho e entre a Economia e as Finanças.
 
Porém, com o advento da Revolução Digital do século XX (introdução generalizada de sistemas computorizados como fator de produção) na industria, nos serviços e até na agricultura, começou a gerar-se um novo ciclo de substituição do homem pela máquina em larga escala. Isto é, o trabalho repetitivo em grande quantidade, que empregava milhares de operários e empregados (quantidade) sem grande especialização, porque faziam sempre o mesmo (repetitivo), passou a ser feito por um computador ou por uma máquina computorizada operada por dois ou três funcionários especializados colocando progressivamente, e de novo, milhares de trabalhadores no desemprego. E o caricato da situação, tal como na 1ª fase da RI, é que a história se repete;  mais eficiência, mais rapidez, mais barato mais produção, mais desemprego. Tudo só vantagens proporcionadas pela tecnologia? Depende da perspetiva de cada ator neste gigantesco palco do trabalho. Do ponto de vista do capital, sobretudo daquele que visa apenas o lucro, preferencialmente fácil e imediato, sim, tudo vantagens. Do ponto de vista social e humano, um desastre total que se anunciava há muito.
 
Vejamos alguns exemplos mais conhecidos que eliminaram milhões de postos de trabalho em todo o Mundo:
 
- A robotização das linhas de montagem das fábricas (de automóveis mas não só): - O nome linhas de montagem significa isso mesmo montagem em linha. Hoje é um operário especializado que opera um robot (computador) que assegura o controlo do trabalho de uma linha de montagem anteriormente com dezenas de operários;
 
- Os empregados dos escritórios que asseguravam a elaboração, conferência e expedição da documentação para os fornecedores e clientes foram substituídos por sistemas informáticos (computadores) completamente autónomos;
 
- O tratamento descentralizado, manuscrito ou dactilografado, de dados de vários documentos nossos conhecidos, tais como cheques, letras, faturas, correspondência, estatísticas etc. passou a ser inserido centralmente, de forma maciça (em computadores). Posteriormente, até esta recolha, ainda manual, foi substituída por leitores óticos (computadores) totalmente autónomos;
 
- As equipas de almeidas das cidades foram substituídas por um carrinho-robot que faz tudo, desde varrer, aspirar e limpar as ruas e é pilotado por um único funcionário;
 
- Exemplos destes repetiram-se na industria têxtil, na industria das pescas, e também na agricultura, basta pensarmos quantos postos de trabalho substituiu uma única estampadora, uma única descabeçadora, uma única ceifeira/debulhadora ou mesmo um único trator com a parafernália de alfaias que hoje é possível acoplar-lhe.
 
- Outros exemplos de eliminação de postos de trabalho, mais próximos do nosso dia a dia são a automação das portagens nas autoestradas, das gasolineiras, das caixas dos supermercados, dos cobradores dos autocarros, dos caixas dos bancos e das centrais telfonicas (nestas já nem uma única operadora há). Tudo isto é útil, cómodo e irreversível, mas faltou-lhe a contrapartida social e humanista.
 
Ou seja, as máquinas são desumanas e, com a miragem do lucro pelo lucro, de preferência fácil e imediato, e ao abrigo de chavões como evolução tecnológica, progresso e modernização, racionalização, downgrade, reengenharia de processos, simplificação do trabalho, eliminação de desperdícios, contenção de custos etc. esqueceu-se a função social das empresas e a dignidade humana associada ao trabalho dando-se supremacia à Economia e à Finança. Assim se destruiram primeiro e extinguiram depois, lenta, mas progressivamente, milhares de milhões de postos de trabalho, e em contrapartida não foram criados os expectáveis e apregoados postos de trabalho especializados, nem criadas as prometidas industrias alternativas.
 
Portanto não foram o maior ou menor investimento, nem os salários mais altos ou mais baixos e tão pouco “a crise económico-financeira” que provocaram este flagelo. Tiveram a sua influência sim e terão até precipitado o inevitável, mas não são condição bastante para justificar as taxas que são todos os dias atualizadas em alta por esse Mundo fora.
 
A realidade nua e crua é que na atualidade os postos de trabalho são um bem escasso e há desemprego porque os postos de trabalho foram simplesmente destruídos e extintos, e sem postos de trabalho é óbvio que não pode haver emprego.
 
 
Então e agora! não há solução?
 
Certamente que há solução, aliás tem que haver solução, a não ser que a elite que se apropriou da governação do Mundo pretenda que ele entre em convulsão e se siga uma fase de autodestruição como já vamos vendo em filmes de ficção.
 
No meu limitado e modesto entendimento uma das soluções (haverá outras certamente) passa por revisitar os princípios da Revolução Industrial e pela aplicação ao trabalho da regra do racionamento que se aplica a qualquer produto quando falta no mercado, e que é mais ou menos esta: Quando um produto é escasso, só há uma forma de continuar a faze-lo chegar a todos os consumidores: - Repartindo-o.
 
Tomando em conta apenas o caso português, que está agravado por três anos de recessão económica,  mesmo que ocorra um milagre e a economia “aqueça”, isto é, aumentem as exportações e consequentemente haja mais produção ou até mesmo que o consumo interno regresse a níveis de 2008, não será essa recuperação que fará regressar o pleno emprego, ou pelo menos uma taxa aceitável de desemprego á volta dos 7%. Sei por experiência o quanto difícil é criar um único posto de trabalho. Acontece que o país tem que criar pelo menos 750.0000, e isto é impossível de fazer sem mudar o paradigma do trabalho. E é aqui, na mudança de paradigma, que, no meu entender, tem que estar a solução ou grande parte dela.
 
Uma das coisas que terá que ser feita, e mais cedo do que tarde, é voltar a aplicar os princípios da 1ª Etapa da Revolução Industrial aos horários de trabalho, reduzindo o número de horas efetivas de trabalho (começando por acabar com a exploração de se prolongar as horas de trabalho para além do horário, sem as remunerar). Mas, para não conduzir as empresas à falência, a redução de horas efetivas de trabalho tem obviamente que ter por contrapartida, para quem investiu e paga os salários, o correspondente acerto proporcional da remuneração efetiva. Vejamos um exemplo simples:
 
Consideremos um qualquer trabalhador com 160 horas de trabalho mensais (8/h por dia, num mês de 20 dias úteis) e com um razoável salário mensal de 1.600€;
 
Se houver uma redução de 1 hora por dia no seu horário, passará a trabalhar 140 horas mensais (7 horas por dia, num mês de 20 dias úteis).
 
Mantendo a mesma remuneração horária passará a auferir um salário mensal de 1.400€.
 
Ora o que é que isto dará como resultado:
 
- 1º o Trabalhador passa a ter mais tempo disponível para si;
 
- 2º a empresa para manter o mesmo nível de produção tem que admitir 1 novo trabalhador por cada 7 que já possua ao seu serviço.
 
Números redondos num universo de 4.000.000 de trabalhadores seriam criados diretamente com esta medida cerca de 500.000 postos de trabalho.

Mas perante uma medida destas, que diminui o salário líquido real, dirão licitamente alguns: - e então, eu vou abdicar de 200€ por mês no meu salário para criar postos de trabalho para outros? Convirá relembrar quem assim pensa que, no nosso país, quem ganhava 1.600€ antes de 2008 já abdicou (e à força) de muito mais de 200€ em apenas 4 anos, e se nada for feito para contrariar a ideologia que comanda a Economia Nacional e Mundial, irá progressivamente ter de abdicar de mais e de mais e mais, até estar reduzido a mais um miserável sem salário que vai engrossar as fileiras do desemprego e da indigência. Será bom que todos nos consciencializemos disto.
 
Para já e por enquanto, salvo algumas raras exceções nos meios académicos, ainda sou eu a pensar alto, mas não tardará que um processo semelhante ao que aqui defendo acabe por ter que ser posto em marcha pelos Homens de bom senso (porque, felizmente, ainda os há) que não quererão ver este planeta e os seus habitantes a digladiarem-se até à morte, apenas e só pela sobrevivência, numa sociedade sem valores, sem ética, sem moral e sem futuro. Infelizmente até há quem defenda esta solução (a da eliminação natural das espécies, no caso, da espécie Humana), mas eu não a quero, nem tão pouco nela posso acreditar.

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