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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Outros Meios, Os Mesmos Métodos


(Imagem da Internet)

No sótão das minhas recordações da escola primária guardo a campanha eleitoral do General Humberto Delgado e do Almirante Américo Thomaz. Não porque eles tenham ido pessoalmente fazer campanha eleitoral à recôndita aldeia beirã onde nasci, e onde frequentei a escola, mas porque, os meus 10 anos de então me permitiram reter aquela novidade, e os 65 de hoje me permitem evidenciar, a esta distância de conhecimentos, a desigualdade de meios e de delegados políticos a que ambos tinham acesso.

Por Thomaz Faziam campanha o presidente da Junta de Freguesia, o médico, o padre - que nas suas homilias exorcizava os inimigos da Pátria daquém e dalém mar - e a professora. Por Delgado faziam campanha uns desconhecidos, aos quais os locais, desconfiados, eram por isso hostis, que apareceram uma ou duas vezes a distribuir uns panfletos com uma foto do General e um texto no verso.

No dia da votação, palavra então desconhecida, fui acompanhar o meu avô à sede da freguesia para votar. Não sei em quem é que votou, mas sei que, com fraude ou sem fraude, o Thomaz ganhou por muitos, e ainda hoje continua a ganhar por aquelas bandas. Não ele, claro, mas os seus herdeiros do pensamento politico.

Na altura não compreendi o que se passou. Só mais tarde, já no serviço militar, quando comecei a ter consciência politica, entendi a enorme manipulação que foram aquelas eleições, não só pelo uso e abuso das estruturas do Estado em favor de um candidato, mas também pela "propaganda oficial" e pela desproporcionalidade de meios que o Estado colocou à disposição dos candidatos, desde logo a mobilização dos caciques locais (no sentido político de pessoa que dispõe dos votos da sua localidade e tem grande poder localmente) acima referidos, que se encarregavam de “modelar” o pensamento e os atos dos cidadãos desinformados, impreparados, quase analfabetos e humildemente submissos.

Era assim naquela época do Estado Novo. Tudo o que envolvesse politica (vem a propósito relembrar que o termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis que designa aquilo que é público conceito a que mais tarde se associou a noção de ciência da governação de um Estado ou Nação) era proibido. Era proibido falar de politica, proibido escrever sobre politica, e sobretudo era proibido praticar a politica. Isso estava reservado para uns quantos iluminados que se arrogavam ao direito de decidir o que é que o povo deveria querer e assim decidir por ele.

Passados 57 anos sobre aquelas eleições e 40 sobre o 25A74, até pode parecer que estamos muito melhor, que temos liberdade de escrever e de falar sobre o que muito bem nos aprouver, que podemos votar livremente, e que somos donos e senhores dos nossos direitos de cidadania. Pura ilusão e pura mentira de quem nos faz crer que assim é. A instrução, as técnicas, as tecnologias e as mentalidades evoluíram, é um facto, mas os condicionalismos continuam os mesmos, travestidos com outras roupagens, veiculados por mensagens bem buriladas, concebidas em conceituadas e especializadas empresa de marketing e de criadores de opinião. Continuamos a ser manipulados e condicionados nas nossas decisões, aos mais diversos níveis, nos mais diversos universos, desde o politico ao dos media passando pelo económico e social, para não falar no psicológico o mais perigoso dos condicionantes da liberdade individual.

A quem discorde de que somos cientificamente manipulados  faço apenas uma pergunta de resposta simples: - É dos que acredita que os jornais, as TVs e as rádios nunca abrem os seus espaços noticiosos de referência com notícias positivas, porque efetivamente não as há? Nunca se apercebeu que o invariável método de iniciar notícias com desastres, calamidades notícias de horrores, guerras…. É uma forma de manipulação da nossa mente e da nossa personalidade?. Ao fim e ao cabo de nos preparar para a punição e nos manter na constante angustia sobre o que virá a seguir e aceitar que seja mau, desde que não seja tão mau assim.

Atente-se, por exemplo, na forma como os anúncios de medidas que se destinam a castigar o "povo gastador", que o governo tem implementado nos últimos 3 anos, ou na propaganda que é montada sempre que qualquer indicador cresce uma milésima depois de ter caído várias unidades.
Nada disto é novo. Foi e é praticado por vários governos em variados países, quase sempre sob a capa protectora da democracia. Mudaram os meios, mas não os métodos. A prova mais recente é a “Operação Marquês”, qual Santa Inquisição, na qual os suspeitos já estão condenados antes mesmo de qualquer acusação. 

Existe porém um pequeno pormenor que empanca a engrenagem que esta malandragem manobra, pormenor que consiste no facto provado de que uma mente estruturada raramente se aliena, se omite ou se demite de pensar por si própria. Felizmente é com essas que a Humanidade tem contado para resistir às tentativas de alienação coletiva, como a que tem sido tentada em Portugal nestes últimos 4 anos.

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