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sexta-feira, 10 de julho de 2015

A Diferença Entre a Propaganda e a Realidade


(Evolução do rendimento auferido, versus IRS suportado, durante os 5 últimos anos, por uma família (concreta) da classe média alta em Portugal)
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- Gráfico by "Pralixados" -

O conceito de classe média (inicialmente designada por nova burguesia), é um conceito capitalista que resultou da consolidação do capitalismo moderno (em vias de implosão, penso eu). 
Surgiu, quase que como um fenómeno da industrialização que motivou a estratificação da sociedade em camadas, camadas se passaram a apelidar de  “Classes Sociais”.
É hoje universalmente reconhecido e aceite que o motor que faz mover qualquer país é a classe média. É o comportamento dela, quer em termos de consumo, quer de poupança, quer de empreendedorismo, quer ainda de força especializada de trabalho, que determina a pujança ou o declínio de um país na geração seguinte. É por isso, e apenas por isso, que, em regra, os Governos dos Estados procuram estimulá-la. 

Estados onde não existe classe média relevante - estados onde só prevalecem ricos, usualmente muito ricos,  e pobres, usualmente muito pobres – são estados paupérrimos e em constantes convulsões socias. Não é preciso fazer grande esforço de análise para enumerarmos, num ápice, algumas dezenas desses Estados pelo Mundo fora.
Paradoxalmente, em Portugal, o Governo em funções não tem feito outra coisa, desde que assumiu o poder, senão atacar e destruir a classe média em geral.
Em Portugal não existem estatísticas conhecidas e credíveis, como existem, por exemplo, no Brasil e nos EUA (* ver nota), que definam o intervalo de rendimentos das famílias que se consideram classe média, e dentro desta, o que é classe média média, classe média alta e classe média baixa. Não há assim números disponíveis que nos permitam “medir” e comparar o quanto destruída foi a classe média em Portugal nestes quatro últimos anos.
Não existem números, mas existem dados concretos de famílias concretas. Umas que viram drasticamente erodida a sua qualidade e nível de vida, outras que se confrontam com a impossibilidade de solver os compromissos assumidos em função dos rendimentos de que dispunham quando os assumiram, e outras ainda que pura e simplesmente engrossaram as fileiras dos pobres e alguns da indigência.
O exemplo real expresso no gráfico acima é o de uma família, classe média alta, constituída por 6 elementos que vivem em casa própria, comprada a crédito, e que possui como único rendimento o dos salários do casal. O casal teve a sorte de nenhum ter sido atingido pelo flagelo do desemprego, mas viram os seus salários reais fortemente reduzidos e o IRS drasticamente aumentado. São ambos quadros superiores de empresas privadas de referência, ela  numa multinacional e ele numa nacional. Os 3 filhos estudam no ensino público, dois na Universidade e um no Secundário. Há também uma avó.
O gráfico, construído com base em documentos oficiais (valores das notas de liquidação do IRS - portanto já expurgados dos encargos com a Segurança Social) que me foram facultados pela família, é elucidativo do terramoto financeiro que arrasou a classe média, em especial a classe média alta à qual o exemplo pertence. No caso concreto desta família, ela perdeu em 3 anos nada mais nada menos do que 42% do rendimento líquido (sem levar em linha de conta o aumento brutal de outros impostos não expressos no gráfico - IMI, IVA, IUC, etc.). Os rendimentos diminuíram 20% enquanto que o IRS aumentou 24%
Dirão alguns, com lógica mas sem razão, que mesmo assim, no meio de toda a devastação que nos assola por todo o lado, esta família se pode dar por muito feliz se comparada com muitos milhares que sobrevivem no limiar da pobreza e mesmo na pobreza absoluta. Pois... no entanto, tal como afirmei no início deste “post”,  há um pequeno pormenor que convirá não desprezarmos: - é que a persistir neste caminho o motor do país vai acabar por parar e Portugal voltará a engrossar a lista dos países subdesenvolvidos, como o era nos anos 40 e 50, anos 50 de cujos finais ainda me lembro.
Este drama é impossível de ser entendido por aqueles que antes da crise já eram ricos,  são ricos durante a crise, e depois da crise continuarão a sê-lo, alguns ainda mais. Poderá custar muito a entender àqueles que tiveram a infelicidade de cair na dependência de ajudas sociais, de parentes ou de amigos, e não será de certeza entendível por aqueles que vivem já na pobreza porque já "estão no fim da linha social" e pior não ficarão, mas esta é a realidade bem conhecida e melhor entendida por todos quantos ainda vivem da força do seu trabalho, que felizmente ainda somos alguns, e que sentiram e sentem na pele a austeridade cega imposta por uma minoria de ideólogos e tecnocratas fanáticos (veja-se o que estão a fazer com a Grécia).

A “outra realidade”, a propaganda, aquela que diariamente nos vendem pelos jornais e pelas televisões, só a compra quem deliberadamente queira e goste de ser enganado.
(* Nota) – Nos EUA (não é um bom exemplo, mas é um que tem regras bem definidas), é considerada como pertencente à classe média a família que reúna o conjunto dos seguintes  6 itens:
- Ter casa própria;
- Ter carro próprio;
- Ter uma reforma assegurada (economias, PPR ou outro);
- Ter economias para pagar os estudos superiores dos filhos (lá pagam-se e são a doer);
- Ter um seguro de saúde ou equiparado (cá temos a Segurança Social);
- Ter capacidade financeira para assegurar férias anuais à família.
O intervalo de rendimento anual de uma família americana, para conseguir este nível de vida, terá de se situar entre os 38.000 e 120.00 USD, dependendo do Estado e da cidade onde resida.


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